Morre ex-presidente Nelson Mandela aos 95 anos
Ícone da queda do apartheid e figura adorada pelos sul-africanos, Nelson Mandela morreu nesta quinta-feira (5) aos 95 anos. A causa foram complicações decorrentes de uma infecção respiratória.
Primeiro presidente negro da África do Sul (1994-99), Mandela não era visto em público desde a final da Copa do Mundo da África do Sul, em julho de 2010.
Sua
última aparição ocorreu em abril, quando ele recebeu um grupo de
políticos encabeçado pelo presidente sul-africano, Jacob Zuma. As cenas
transmitidas pela TV estatal, em que aparece distante e alheio ao que se
passa a seu redor, causaram comoção no país.
Esta
era sua quarta internação desde dezembro de 2012, quando começou a
enfrentar uma crise respiratória. Do lado de fora do hospital, uma
multidão de jornalistas e admiradores mantinha vigília permanente desde o
agravamento do seu estado de saúde.
Respeitado
internacionalmente pelos gestos de reconciliação, Mandela passou 27
anos preso por se opor ao sistema segregacionista branco. Após intensa
pressão internacional, foi libertado em 1990. Saiu da prisão para
negociar com a minoria branca o fim do regime e de lá para ser
presidente eleito sob uma nova Constituição.
Em seu governo, adotou como prioridade o discurso de unidade nacional
e desencorajou atos de vingança e violência. Analistas apontam que, em
razão disso, não conseguiu dar atenção suficiente a programas sociais, à
geração de empregos e à epidemia de Aids, que se alastrou durante seu
governo.
Em 1999, declinou da possibilidade de concorrer a um novo mandato
para se dedicar a causas sociais e a ser uma espécie de consciência
moral da nação. Pouco a pouco, no entanto, foi reduzindo sua
visibilidade à medida em que a idade avançava.
Ainda
não está claro quando e onde será o enterro. Há duas possibilidades: na
vila onde nasceu, Mvezo, ou na pequena localidade em que passou a
infância, Qunu. Ambas ficam na na província de Cabo Oriental, na costa do oceano Atlântico.
Trajetória
O
sul-africano nasceu na vila de Qunu (Transkei), em 18 de julho de 1918.
Filho de Henry Gadla, chefe da tribo Thembu da etnia xhosa, sua vocação
para a liderança é atribuída à formação familiar, já que ele foi criado
para seguir os passos do pai.
Ao
contrário do que previa a tradição, decidiu estudar. Abandonou sua
província e foi viver em Alexandra, bairro negro no subúrbio de
Johannesburgo.
Casou-se com Evelyn Mandela em 1944, com quem teve dois filhos e duas filhas.
Formou-se advogado pela Universidade de Witwaterrand em 1952 e montou um escritório de advocacia para negros. É nesta época que entra para o Congresso Nacional Africano -movimento nacionalista de luta contra o apartheid.
Em
1960, aumenta a repressão contra o CNA, que nos últimos anos vira
crescer sua importância política. O movimento liderava greves e
manifestações de desobediência civil. Naquele ano, Mandela consegue
autorização do líder do movimento, Albert Luthuli, para montar o que
seria o braço armado do CNA, o Umkhonto we Sizwe ("Lança da Nação").
Ainda em 60, o CNA seria banido e passaria à clandestinidade.
Apesar
de ter autorizado a criação do grupo, Luthuli, prêmio Nobel da Paz de
1960 e presidente do CNA de 1952 a 1967, nunca defendeu o uso das armas.
Mandela
acreditava na luta armada e dizia lutar pela liberdade dos negros
sul-africanos. Dentro do movimento, era acusado de ter atitudes
contraditórias. Costumava se reunir com seus amigos brancos e asiáticos.
Ele dizia: "Não sou inimigo dos brancos, mas de suas leis injustas".
Prisão perpétua
Mandela foi preso em 5 de agosto de 1962 e condenado à prisão perpétua por sabotagem contra o governo, em 12 de junho de 1964.
Quando
foi preso, em 1962, Mandela estava casado pela segunda vez com a
militante Winnie Madikizela, que conheceu nas reuniões do CNA, em 1956,
quando ainda vivia com Evelyn. Casaram-se em 1958 e tiveram duas filhas.
Incomunicável
durante 27 anos, Mandela deve a Winnie o início do movimento de luta
por sua libertação. Não assistiu ao processo de mitificação de seu nome.
Winnie Mandela sofreu inúmeras represálias. Foi presa e ameaçada, além de processada por envolvimento em atos radicais.
No final da década de 80, Nelson Mandela era o preso político mais famoso do mundo.
Fim do apartheid
O
Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) exigia,
por meio de sanções econômicas, o fim do apartheid. A sociedade branca
sul-africana parecia cansada do banimento imposto pela comunidade
internacional.
Em
14 de setembro de 1989, assume a Presidência Frederik W. de Klerk.
Herdeiro de fundadores do Partido Nacional, ele inicia reformas no
regime político. No dia 2 de fevereiro de 1990, legaliza o CNA e, no dia
11, anuncia a libertação de Mandela.
Livre, ele inicia negociações por reformas políticas. Separa-se de Winnie em abril de 1992, após 33 anos de casamento.
Recebeu o prêmio Nobel da Paz, juntamente com o presidente Frederik de Klerk, no dia 15 de outubro de 1993.
Em
maio de 1994, ele tornou-se o primeiro presidente negro na história da
África do Sul, encerrando o mandato em 1999, sem tentar uma reeleição,
como já havia se comprometido ainda antes de tomar posse. Em 2004, ele
anunciou que se retirava da vida pública.
Em
2009, as Nações Unidas declararam o dia 18 de julho como o Dia
Internacional de Mandela, em que organizações e indivíduos são
encorajados a tomar parte em ações humanitárias.
"Sou um dos milhões que se inspiraram em Mandela", diz Obama
O
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lamentou nesta
quinta-feira (5) em pronunciamento na Casa Branca a morte do
ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela.
Ícone
da queda do apartheid e figura adorada pelos sul-africanos, Nelson
Mandela morreu hoje aos 95 anos em sua casa em Johannesburgo.
"Nelson
Mandela lutou por um ideal e morreu por um ideal. Hoje ele vai para
casa. Ele não nos pertence mais, pertence à Historia", disse Obama.
Em
discurso breve, o presidente americano ainda elogiou a trajetória de
Mandela e se disse inspirado por ele. "Madiba transformou a África do
Sul e emocionou todos nós [...] Eu sou um dos milhões que se inspirou em
Mandela. A primeira coisa que fiz na política foi um protesto contra o
apartheid."
O
primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, qualificou o
ex-presidente sul-africano Nelson Mandela como um "herói de nosso tempo"
e ordenou que a bandeira da residência oficial do chefe do Governo
britânico fique a meio mastro.
Dilma lamenta
A
presidente Dilma lamentou ontem a morte do ex-presidente sul-africano
Nelson Mandela, a quem chamou de “personalidade maior do Século XX”.
“Personalidade maior do século XX, Mandela conduziu com paixão e
inteligência um dos mais importantes processos de emancipação do ser
humano da história contemporânea - o fim do apartheid na África do
Sul... “O governo e o povo brasileiros se inclinam diante da memória de
Nelson Mandela”, disse.
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